segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Na Folha de SP de hoje...

Saíram duas reportagens sobre o Ato Médico: uma psicóloga, argumentando contra sua implementação, e um médico (claro, não conheço nenhuma outra pessoa não-médico a favor dele, que não tenha interesses por trás disso!) defendendo-o. Seguirão, abaixo.

Não vou prolongar na minha "introdução", o que eu tinha pra escrever sobre já escrevi em outros posts. Só queria situar duas coisas:

1) Finalmente, a Folha de SP deu espaço para um verdadeiro debate entre opiniões (vide os dois primeiros posts desse Blog, onde comentei quando divulgaram um artigo de um médico a favor do "Ato" no primeiro caderno e não abriram espaço para a discussão. Escrevi, por aqui mesmo - e mandei pro jornal, também - uma resposta, que se encontra abaixo).

2) É incrível o quão claro fica, quando se abrem discussões assim, que os profissionais de saúde contrários ao "Ato Médico" têm muito a dizer, a argumentar e a questionar sobre tal projeto, respaldados por toda a história da saúde pública e sua implementação no Brasil, enquanto os médicos, vez após vez, não dizem nada que realmente defina o "Ato Médico" como algo em prol do desenvolvimento da saúde e das demais profissões. Mesmo que o digam, dizem sem respaldo e sem razão. Bom, vejam por si mesmos, a diferença entre argumentações.

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Para médico, lei de saúde protegerá a sociedade
da Folha de S.Paulo

Para o vice presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Carlos Alberto Fernandes Ramos, a regulação de atividades relacionadas à saúde é positiva para a população pois irá garantir que, quando o assunto for uma doença, o atendimento seja feito por um profissional que estudou a fundo esse tema: o médico.

Folha - Por que o projeto é necessário?

Carlos Alberto Ramos - São 14 as profissões de saúde e só uma não está regulamentada: a medicina. Esse projeto vai dizer as competências do médico, as exclusivas e as que pode fazer como os outros.

Folha - Que benefício traz?

Ramos - Isso tem que ser feito para proteger a sociedade de eventuais inescrupulosos que realizem atos específicos da medicina. Ou ainda porque o médico estudou de forma extensa e mais aprofundada as doenças, seus efeitos, tratamentos, interações medicamentosas etc.

Folha - As outras categorias são marginalizadas?

Ramos - O projeto não as torna subalternas. Elas deverão apenas se ater aos limites citados por suas próprias leis. O médico não sabe fazer trabalhos de outras áreas e não vamos interferir nisso.

Folha - Essas leis são antigas, genéricas?

Ramos - Às categorias compete atualizá-las.

Folha - E quanto à chefia de serviços médicos?

Ramos - Estamos falando de serviço médico, não de saúde. Um médico na chefia resguarda o cumprimento do Código de Ética.

(Comentário: além da autopromoção médica, a entrevista é recheada de arrogância e de pouco caso)

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Psicóloga diz que "ato médico" é retrocesso
da Folha de S.Paulo

O projeto de lei conhecido por "ato médico" representa um retrocesso pois vai contra o princípio da integralidade das diferentes profissões da área da saúde, segundo a diretora-secretária do Conselho Federal de Psicologia, Clara Goldman Ribemboim.

Folha - Como vê o projeto?

Clara Ribemboim - Ele limita a autonomia das profissões e as transforma em ilhas. Preconiza que o diagnóstico e a prescrição terapêutica são prerrogativas exclusivas do médico. É um retrocesso e coloca em risco o cuidado integral à saúde preconizado pela Constituição federal para o SUS.

Folha - Há uma ideia de que a medicina é superior?

Clara - Existe uma visão de supremacia do saber médico em relação às outras. Porém, cada profissão traz sua colaboração na promoção da saúde, e o médico sozinho não domina todo o conhecimento.

Folha - Os médicos poderiam exercer funções características das outras profissões?


Clara
- O que está em jogo não é o fato de os médicos exercerem as outras profissões. O que esse projeto visa é o monopólio do encaminhamento e da chefia dos serviços. Vai atravancar o processo de atendimento e teremos uma falência do SUS.

Folha - E quanto à chefia dos serviços apenas por médicos?

Clara - Os serviços médicos não são serviços onde só o médico atua. Temos exemplos na atenção básica de serviços multiprofissionais chefiados por diferentes profissionais.

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